segunda-feira, 30 de março de 2015

o adjetivo na construção do texto

Retrato 
Cecília Meirelles
Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha  este coração
Que nem se mostra.

 Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida a minha face?  
Texto disponível em:

Questões sobre o texto 
1. No poema “Retrato”, nota-se  a presença da primeira pessoa, o eu lírico descreve o seu próprio rosto.
a.  O eu lírico não mais reconhece o rosto como sendo seu, ao afirmar no primeiro verso  “Eu não tinha este rosto de hoje”.
Quais palavras, nesse verso intensificam essa ideia de estranhamento?
b. Transcreva os adjetivos da primeira estrofe que caracterizam o substantivo rosto.
c. Pode-se dizer que a mudança ocorrida com o eu lírico é apenas física, ou ocorre também em seu íntimo, em sua personalidade? Justifique sua resposta.
2. Observe o segundo verso:  “Assim calmo, assim triste, assim magro.” A repetição da palavra  “assim” dá um ritmo lento a esse verso.
Qual a relação do ritmo do verso  com a mudança sugerida no rosto do eu lírico?
3. Nos dois últimos versos da primeira estrofe, a constatação do eu lírico  continua.
Como são caracterizados os olhos e os lábios?
4. Observe a segunda estrofe.
a. Nos dois primeiros versos, o eu lírico observa a mudança ocorrida em suas mãos, partes significativas e simbólicas do corpo e que simbolizam força e luta pela vida.
Como as mãos são caracterizadas no poema?   Pode-se deduzir como elas eram no passado?  Por quê?
b. Nos dois últimos versos,  o eu lírico descreve seu coração, metáfora para os seus sentimentos.
Quais são os adjetivos usados para mostrar como  eram seus sentimentos antes?  E quais foram empregados para mostrar como eles estão agora?
5. Na terceira estrofe, no primeiro verso, o eu lírico percebe e assume que mudou fisicamente e interiormente.
Transcreva os adjetivos usados para marcar  como  o eu lírico vê essa mudança.
6. Comente o questionamento do eu lírico nos dois últimos versos da última estrofe.
7. Discuta com seus colegas sobre o papel dos adjetivos no poema de Cecília Meireles, cuja temática trata da transitoriedade  da vida e da fugacidade do tempo.

Verbos Modais

Em algumas situações não é  possível expressar através das formas simples do verbo a circunstância que pretendemos. Neste caso, recorremos aos tempos compostos, que são formados da seguinte maneira:
VERBO AUXILIAR + FORMA NOMINAL DO VERBO (gerúndio, particípio ou infinitivo).
Exemplos:
  • Vou comer pouco hoje.
  • Temos estudado muito.
  • Ele estava andando pela praia hoje.
Os verbos principais carregam a maior carga semântica da forma verbal composta, já os verbos auxiliares são responsáveis por marcar o tempo, o modo, o número e a pessoa daquela forma verbal.
Exemplos:
  • Vou comer, vais comer, fomos comer.
  • Tinha estudado, tínhamos estudado, terão estudado.
  • Estou andando, estaremos andando, estariam andando.
Podemos distinguir ainda os verbos auxiliares segundo o valor semântico que carregam. Temos, assim, os verbos auxiliares modais e os verbos auxiliares aspectuais.

Verbo Auxiliar Modal

Expressam o modo como o locutor enxerga aquela ação verbal. Juntos com o verbo principal eles formam uma locução verbal. São eles: dever, poder, ter, saber, crer, precisar, etc.
Exemplos:
  • João pode andar pela praia hoje.
  • João deve andar pela praia hoje.
  • João precisa andar pela praia hoje.
Como podemos ver, dependendo do verbo auxiliar utilizado, o locutor pode expressar certeza, dúvida, desejo, etc.

Verbo Auxiliar Aspectual

Neste caso, o verbo auxiliar acrescenta a noção de aspecto, de como a ação se realizou. São eles: estar, começar, pôr, continuar, etx.
  • Eles estavam assistindo TV.
  • Eles continuavam assistindo TV.
  • Começaram a fazer perguntas.
  • Continuaram a fazer perguntas.
  • Estavam a fazer perguntas.
A partir destes poucos exemplos, já  podemos perceber a diferença de significado quando utilizamos algum desses verbos aspectuais. Eles agem sobre o verbo principal trazendo uma nova informação semântica, como se fossem advérbios caracterizando aquela ação verbal.
Fontes:
http://www.ciberduvidas.pt/pergunta.php?id=16352
http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=gramatica/docs/verboauxiliar
Gramática Normativa da Língua Portuguesa (Rocha Lima)

Termos Essenciais da Oração

As orações são formadas por partes menores que chamamos de termos da oração. Esses termos são classificados conforme a sua importância para a estrutura da oração. 
  • Termos Essenciais: são aqueles que não podem faltar em uma frase, mesmo que não apareça nela.
  • Termos Integrantes: aqueles que se integram a oração para lhes dar maior significado, completando-lhe o sentido. 
  • Termos Acessórios: são usados para realçar a oração, podendo ser dispensado sem perda de sentido.
Quando ocorrer de termos um período composto, temos sempre que analisar as orações separadamente, pois cada oração possui seus termos.
Exemplo:

Durante a noite, a mulher saiu de casa e foi à festa, enquanto o marido trabalhava na fábrica.

Há nessa frase, três orações: a primeira se forma em torno do verbo "saiu"; a segunda, em torno do verbo "foi"; a terceira, em torno do verbo "trabalhava".
Se perguntarmos: quem saiu? De onde? teremos como respostas:
 Quem saiu? A mulher (sujeito)
De onde? de casa (adjunto adverbial de lugar)

Quem foi? a mulher (sujeito)
A onde? a festa (adjunto adverbial de lugar)

Quem trabalhava? O marido (sujeito)
Onde? na fábrica (adjunto adverbial de lugar)

Observe que nessa frase formada por três orações, cada oração possui o seu sujeito e o seu adjunto adverbial. Tanto o sujeito quanto o adjunto adverbial são termos da oração, isto é, partes que formam a oração.
Para encontrarmos o sujeito da oração, perguntamos "Quem?" ao verbo.

  Termos Essenciais

São dois: o sujeito e o predicado.
  • Sujeito: o  ser que pratica a ação, ou o ser sobre o qual se faz uma declaração.
  • Predicado: é aquilo que se diz do sujeito.
IMPORTANTE

 1. Quando o verbo for impessoal a oração não terá sujeito. São verbos impessoais:
  • Verbo HAVER quando significar existir.
Exemplo: Há pessoas que não gostam de estudar. 
            (Existem)
"Pessoas" é objeto do verbo haver na oração "Há pessoas"
Se perguntarmos "Quem há pessoas?" não tem resposta porque o sujeito que pratica essa ação não existe, o verbo é impessoal. É diferente da seguinte seguinte frase: Ana ganhou um aumento. Veja: Quem ganhou um aumento? Ana (sujeito).
  • Verbo faz no sentido de tempo.
Exemplo: Faz três anos que não a vejo.

  • Os verbos que indicam fenômenos da natureza: chover, nevar, trovejar, relampejar, anoitecer, amanhecer, etc. 
Exemplo: Choveu bastante ontem à noite.

2. Quando for um verbo pessoal, mesmo que o sujeito não apareça na oração ele existe.
Exemplo: Viajamos muito para chegarmos até aqui e voltarmos de mãos vazias.

 Para todas as orações que formam essa frase, constituídas em torno dos verbos "viajamos", "chegamos" e "voltarmos", o sujeito é "Nós". Esse sujeito não aparece na oração, mas fica subentendido na desinência -mos, que aparece nas três formas verbais. É o tipo de sujeito chamado de Sujeito Oculto, ou Sujeito Desinencial.  

 3. Retirando o sujeito da oração, tudo o que restar é o predicado.

Exemplo:

Durante toda a madrugada de sexta-feira, dia 14 de maio, ninguém dormiu tranquilo na cidade de Marabá, no Estado do Pará. 

Essa frase apesar de grande possui um único verbo, portanto apenas uma oração. Se perguntamos: Quem dormiu? A resposta será "ninguém", portanto "ninguém" é o sujeito, todo o restante da frase é o predicado, isto é, aquilo que se diz do sujeito.

Atividades

01. Identifique o sujeito nas frases abaixo.
a) Nós estamos todos aqui.
b) Estamos todos aqui.
c) Durante muito tempo, a sociedade brasileira esperou por ver um político sendo punido pela justiça.
d) Há evidências de seu crime.
e) Eles fizeram

02. Destaque sublinhando nas frases abaixo somente os predicados.
a) Na gaveta daquela mesa, há duas cartas antigas.
b) O aviso, bastante informativo, estava afixado sobre a porta de entrada da casa de show.
c) Ninguém compareceu à festa promovida pela prefeitura.
d) Durante todo esse tempo, eu estive do seu lado.
e) Marcela, você bem que poderia ficar mais um pouquinho aqui.

03. Veja em quais dos casos abaixo o verbo "haver" é pessoal, possuindo o sujeito que pratica a ação.
a) Todos vocês hão de pagar pelo crime que cometeram.
b) Na sociedade, há muitos que não querem seguir a lei.
c) As marcar que eles haviam deixado desapareceram.
d) Há marcas deixadas por eles que não desaparecem.
e) Sempre houve pessoas de boas e más índoles.

04. Marque a única opção abaixo que não apresenta verbo impessoal.
a)  Faz dez anos que você apareceu na minha vida.
b) Ela faz falta quando não está aqui.
c) Choveu um dilúvio pela madrugada.
d) Há lágrimas que não merecem ser derramadas.
e) Já faz tempo que houve aqui muitas árvores.


GABARITO

01.
a) Nós
b) sujeito oculto "Nós"
c) Sujeito de "esperou" é "a sociedade brasileira", sujeito de "sendo punido" é "um político"
d) O verbo haver está sendo usado no sentido de existir, portanto é impessoal, nesse caso a oração não tem sujeito.
e) Eles

02.
a) Na gaveta daquela mesa, há duas cartas antigas.
b) O aviso, bastante informativo, estava afixado sobre a porta de entrada da casa de show.
c) Ninguém compareceu à festa promovida pela prefeitura.
d) Durante todo esse tempo, eu estive do seu lado.
e) Marcela, você bem que poderia ficar mais um pouquinho aqui.

Observações:
  • na frase de a) o verbo "há" é impessoal, portanto não possui sujeito, toda a oração é o predicado.
  • na frase de e) Marcela não é sujeito, é vocativo, o sujeito é "você".
03. 
a
c
04. 
b


quarta-feira, 18 de março de 2015

Carta de Caminha



Nesta atividade conheceremos um trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha, para D. Manuel, o rei de Portugal na época do descobrimento do Brasil. Esse texto representa o primeiro registro da existência das terras que iriam ser o nosso país. Pelo relato, podemos perceber o fascínio e o estranhamento dos navegantes, e, principalmente, quais eram as suas perspectivas e intenções ao aportarem por aqui. A grande importância desse texto, também, se deve à descrição da paisagem exuberante e dos grupos sociais que nela habitavam. A partir dele, portanto, é possível discutir em que medida os encantos da terra e de seu povo ainda fundamentam a imagem difundida de nosso país. Considerando essas informações, vamos ler a passagem a seguir:






CARTA DE ACHAMENTO DO BRASIL (Pero Vaz de Caminha)


Senhor, Posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a notícia do achamento desta Vossa terra nova, que se agora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que – para o bem contar e falar – o saiba pior que todos fazer! Todavia tome Vossa Alteza minha ignorância por boa vontade, a qual bem certo creia que, para aformosentar nem afear, aqui não há de pôr mais do que aquilo que vi e me pareceu. [...] E portanto, Senhor, do que hei de falar começo. E digo quê: Aula 1: A carta de Achamento do Brasil6 [...] seguimos nosso caminho, por este mar de longo, até que terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de abril, topamos alguns sinais de terra. E quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam furabuchos. Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz! [...] E dali avistamos homens que andavam pela praia, uns sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos que chegaram primeiro [...]. A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixa de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência. Ambos traziam o beiço de baixo furado e metido nele um osso verdadeiro, de comprimento de uma mão travessa, e da grossura de um fuso de algodão, agudo na ponta como um furador. [...] O Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, aos pés uma alcatifa por estrado; e bem vestido, com um colar de ouro, mui grande, ao pescoço. [...] Acenderam-se tochas. E eles entraram. Mas nem sinal de cortesia fizeram, nem de falar ao Capitão; nem a alguém. Todavia um deles fitou o colar do Capitão, e começou a fazer acenos com a mão em direção à terra, e depois para o colar, como se quisesse dizer-nos que havia ouro na terra. E também olhou para um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e novamente para o castiçal, como se lá também houvesse prata! [...] Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos, visto que não têm nem entendem crença alguma, segundo as aparências [...] Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela [na nova terra], ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. E desta maneira dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta Vossa terra vi. E se a um pouco alonguei, Ela me perdoe. Porque o desejo que tinha de Vos tudo dizer, mo fez pôr assim pelo miúdo. [...] Beijo as mãos de Vossa Alteza7 Deste Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500.





(Pero Vaz de Caminha. Fonte: http://www.culturabrasil.org/zip/carta.pdf)

A Poesia Romântica




TEXTO 1: I-Juca-Pirama/Canto I
 No meio das tabas de amenos verdores,
 Cercadas de troncos — cobertos de flores,
Alteiam-se os tetos d'altiva nação;
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,
Temíveis na guerra, que em densas coortes
Assombram das matas a imensa extensão.
São rudos, severos, sedentos de glória,
Já prélios incitam, já cantam vitória,
 Já meigos atendem à voz do cantor:
São todos Timbiras, guerreiros valentes!
 Seu nome lá voa na boca das gentes,
Condão de prodígios, de glória e terror!
As tribos vizinhas, sem forças, sem brio,
As armas quebrando, lançando-as ao rio,
 O incenso aspiraram dos seus maracás:
Medrosos das guerras que os fortes acendem,
Custosos tributos ignavos lá rendem,
Aos duros guerreiros sujeitos na paz.
No centro da taba se estende um terreiro,
Onde ora se aduna o concílio guerreiro
 Da tribo senhora, das tribos servis:
 Os velhos sentados praticam d'outrora,
 E os moços inquietos, que a festa enamora,.
 Derramam-se em torno dum índio infeliz
Quem é? — ninguém sabe: seu nome é ignoto,
Sua tribo não diz: — de um povo remoto
Descende por certo — dum povo gentil;
Assim lá na Grécia ao escravo insulano
Tornavam distinto do vil muçulmano
As linhas corretas do nobre perfil.
Por casos de guerra caiu prisioneiro
Nas mãos dos Timbiras: — no extenso terreiro
 Assola-se o teto, que o teve em prisão;
Convidam-se as tribos dos seus arredores,
Cuidosos se incumbem do vaso das cores,
Dos vários aprestos da honrosa função.
 Acerva-se a lenha da vasta fogueira,
Entesa-se a corda de embira ligeira,
Adorna-se a maça com penas gentis:
A custo, entre as vagas do povo da aldeia
Caminha o Timbira, que a turba rodeia,
 Garboso nas plumas de vário matiz.
 Entanto as mulheres com leda trigança,
Afeitas ao rito da bárbara usança,
O índio já querem cativo acabar:
coma lhe cortam, os membros lhe tingem,
Brilhante enduape no corpo lhe cingem,
Sombreia-lhe a fronte gentil canitar.
(Gonçalves Dias)

Canto 2: I-Juca-Pirama / Canto IV
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
 Então, forasteiro,
Caí prisioneiro
De um troço guerreiro
Sou filho das selvas,
 Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo Tupi.
 Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
 Guerreiros, nasci;
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
 Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.
Aos golpes do imigo
 Meu último amigo,
Sem lar, sem abrigo
Caiu junto a mi!
Com plácido rosto,
Sereno e composto,
O acerbo desgosto
Comigo sofri.
Meu pai a meu lado
 Já cego e quebrado,
De penas ralado,
Firmava-se em mi:
Nós ambos, mesquinhos,
Por ínvios caminhos,
Cobertos d'espinhos
 Chegamos aqui!
 O velho no entanto
Sofrendo já tanto
De fome e quebranto,
Só qu'ria morrer!
Não mais me contenho,
Nas matas me embrenho,
 Das frechas que tenho
Me quero valer.
Com que me encontrei:
O cru dessossego
Do pai fraco e cego,
Enquanto não chego,
Qual seja — dizei!
Eu era o seu guia
 Na noite sombria,
A só alegria
Que Deus lhe deixou:
Em mim se apoiava,
Em mim se firmava,
Em mim descansava,
Que filho lhe sou.
Ao velho coitado
De penas ralado,
 Já cego e quebrado,
Que resta? - Morrer.
Enquanto descreve
O giro tão breve
Da vida que teve,
 Deixa-me viver!
 Não vil, não ignavo,
Mas forte, mas bravo,
Serei vosso escravo:
 Aqui virei ter.
Guerreiros, não coro
Do pranto que choro;
Se a vida deploro,
 Também sei morrer.
(Gonçalves Dias)
.
TEXTO 3: Canto de Amor III
 P'ra ti, formosa, o meu sonhar de louco
 E o dom fatal, que desde o berço é meu;
Mas se os cantos da lira achares pouco,
 Pede-me a vida, porque tudo é teu.
Se queres culto - como um crente adoro,
Vem reclinar-te, como a flor pendida,
Sobre este peito cuja voz calei:
 Pede-me um beijo... e tu terás, querida,
Toda a paixão que para ti guardei
Do morto peito vem turbar a calma,
11 Se queres culto - como um crente adoro,
Se preito queres - eu te caio aos pés,
Se rires - rio, se chorares - choro,
E bebo o pranto que banhar-te a tez.
Dá-me em teus lábios um sorrir fagueiro,
 E desses olhos um volver, um só;
E verás que meu estro, hoje rasteiro,
Cantando amores s'erguerá do pó!
Virgem, terás o que ninguém te dá;
 Em delírios d'amor dou-te a minha alma,
Na terra, a vida, a eternidade - lá!
(Casimiro de Abreu)

TEXTO 4: A canção do africano
Lá na úmida senzala,
 Sentado na estreita sala, Junto ao braseiro, no chão,
Entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em pranto
Saudades do seu torrão ...
De um lado, uma negra escrava
Os olhos no filho crava,
Que tem no colo a embalar...
E à meia voz lá responde
Ao canto, e o filhinho esconde,
 Talvez pra não o escutar!
"Minha terra é lá bem longe,
 Das bandas de onde o sol vem;
Esta terra é mais bonita,
Mas à outra eu quero bem!
 "0 sol faz lá tudo em fogo,
Faz em brasa toda a areia;
"Lá todos vivem felizes,
Todos dançam no terreiro;
 A gente lá não se vende
Como aqui, só por dinheiro".
O escravo calou a fala,
Porque na úmida sala
O fogo estava a apagar;
E a escrava acabou seu canto,
Pra não acordar com o pranto
O seu filhinho a sonhar!
O escravo então foi deitar-se,
Pois tinha de levantar-se
Bem antes do sol nascer,
E se tardasse, coitado,
Teria de ser surrado,
Pois bastava escravo ser.
E a cativa desgraçada
Deita seu filho, calada,
 Ninguém sabe como é belo
 Ver de tarde a papa-ceia!
"Aquelas terras tão grandes,
Tão compridas como o mar,
 Com suas poucas palmeiras
Dão vontade de pensar ...
(Castro Alves)


CLASSES DE PALAVRAS



A primeira gramática do ocidente foi de autoria de Dionísio de Trácia, que identificava oito partes do discurso: nome, verbo,particípio, artigo, preposição, pronome, advérbio e conjunção. Atualmente, são reconhecidas dez classes gramaticais pela maioria dos gramáticos: substantivo, adjetivo, advérbio, verbo, conjunção, interjeição, preposição, artigo, numeral e pronome.


Como podemos observar, houve alterações ao longo do tempo quanto às classes de palavras. Isso acontece porque a nossa língua é viva, e portanto vem sendo alterada pelos seus falantes o tempo todo, ou seja, nós somos os responsáveis por estas mudanças que já ocorreram e pelas que ainda vão ocorrer. Classificar uma palavra não é fácil, mas atualmente todas as palavras da língua portuguesa estão incluídas dentro de uma das dez classes gramaticais dependendo das suas características. A parte da gramática que estuda as classes de palavras é a MORFOLOGIA (morfo = forma, logia = estudo), ou seja, o estudo da forma. Na morfologia, portanto, não estudamos as relações entre as palavras, o contexto em que são empregadas, ou outros fatores que podem influenciá-la, mas somente a forma da palavra.


Há discordância entre os gramáticos quanto a algumas definições ou características das classes gramaticais, mas podemos destacar as principais características de cada classe de palavras:


SUBSTANTIVO – é dita a classe que dá nome aos seres, mas não nomeia somente seres, como também sentimentos, estados de espírito, sensações, conceitos filosóficos ou políticos, etc.


Exemplo: Democracia, Andréia, Deus, cadeira, amor, sabor, carinho, etc.


ARTIGO – classe que abriga palavras que servem para determinar ou indeterminar os substantivos, antecedendo-os.


Exemplo: o, a, os, as, um, uma, uns, umas.


ADJETIVO – classe das características, qualidades. Os adjetivos servem para dar características aos substantivos.


Exemplo: querido, limpo, horroroso, quente, sábio, triste, amarelo, etc.


PRONOME – Palavra que pode acompanhar ou substituir um nome (substantivo) e que determina a pessoa do discurso.


Exemplo: eu, nossa, aquilo, esta, nós, mim, te, eles, etc.


VERBO – palavras que expressam ações ou estados se encontram nesta classe gramatical.


Exemplo: fazer, ser, andar, partir, impor, etc.


ADVÉRBIO – palavras que se associam a verbos, adjetivos ou outros advérbios, modificando-os.


Exemplo: não, muito, constantemente, sempre, etc.


NUMERAL – como o nome diz, expressam quantidades, frações, múltiplos, ordem.


Exemplo: primeiro, vinte, metade, triplo, etc.


PREPOSIÇÃO – Servem para ligar uma palavra à outra, estabelecendo relações entre elas.


Exemplo: em, de, para, por, etc.


CONJUNÇÃO – São palavras que ligam orações, estabelecendo entre elas relações de coordenação ou subordinação.


Exemplo: porém, e, contudo, portanto, mas, que, etc.


INTERJEIÇÃO – Contesta-se que esta seja uma classe gramatical como as demais, pois algumas de suas palavras podem ter valor de uma frase. Mesmo assim, podemos definir as interjeições como palavras ou expressões que evocam emoções, estados de espírito.


Exemplo: Nossa! Ave Maria! Uau! Que pena! Oh!


Fonte: Paulo Mosânio Teixeira. Classes e categorias em português. 2. ed. rev. E ampl. / Paulo Mosânio Teixeira Duarte e Maria Claudete Lima. – Fortaleza: Editora UFC, 2003.




domingo, 2 de novembro de 2014

Modernismo no Brasil

No início do século XX desenvolveu-se na Europa um conjunto de correntes artísticas (dadaísmo, surrealismo, expressionismo, futurismo) que formaria a arte moderna. Artistas brasileiros, em suas idas ao exterior, voltavam com estas novas influências que, somadas ao desejo de instaurar uma arte moderna brasileira, longe da imitação de padrões europeus, com valorização do nacional, possibilitou o início do Modernismo no Brasil.
O Modernismo brasileiro teve três fases: a primeira surgiu em 1922, a segunda em 1930 e a terceira em 1945. O ponto de partida foi a Semana de Arte Moderna, que ocorreu entre 13 e 18 de fevereiro de 1922 e possibilitou a aproximação de vários artistas com ideias modernistas, dando força ao movimento.
Primeira fase do modernismo
Durante a primeira fase o movimento buscou concretizar-se no Brasil. Foi um período de grande produção de arte moderna e de materiais que divulgavam esta arte (orgia intelectual). Em meio a essa “orgia”, quatro correntes de pensamento ganharam força e foram ganhando teor ideológico ao longo da década de 20. São elas: Pau Brasil, Verde Amarelismo, Escola da Anta e Antropofagia.
Manifesto Pau Brasil
Fundado por Oswald de Andrade com o Manifesto Pau Brasil, o movimento Pau Brasil fazia críticas ao passado cultural brasileiro, que imitava os modelos europeus, propondo um olhar para o Brasil com o olhar do brasileiro, apesar das influencias europeias.
Verde Amarelismo
Em resposta a isso, o Verde Amarelismo vinha com a defesa de um nacionalismo exagerado, valorizando os elementos nacionais sem qualquer influência europeia. Esta corrente, que originaria a Escola da Anta, tinha inclinações nazistas e, de certa forma, possuía ideais xenófobos.
Antropofagia
A Antropofagia, também fundada por Oswald de Andrade, vinha como uma nova resposta às duas correntes, pregando a aceitação da cultura estrangeira, mas sem cópias e imitações. Esta cultura deveria ser absorvida pela brasileira, que colocaria na arte a representação da realidade do Brasil e do elemento popular, valorizando as riquezas nacionais.
Transição
Apesar dos movimentos contrários, vemos na primeira fase modernista uma arte descontraída, com poemas que desestruturavam as velhas escolas literárias e que traziam uma linguagem que fugia às regras gramaticais, aproximando-se da fala popular. A construção da imagem brasileira foi sendo aproximada do povo, da realidade popular e a principal temática comum a todas as obras era a valorização e reconstrução do nacionalismo.
A transição da primeira para a segunda fase modernista ocorreu em meio à revoltas contra a política brasileira do café-com-leite e à crise econômica ocasionada pela crise de 1929, que impossibilitava a importação do café, principal riqueza brasileira. As Grandes Guerras também viriam compor o cenário histórico da época.
A busca pela nacionalidade no final da década de 1920 já começava a ganhar ares ideológicos e os conflitos da época também pediam a tomada definitiva de uma posição ideológica. O resultado disso é a arte engajada que surgiu na segunda fase modernista, com uma reflexão sobre a época de crise e pobreza.
Segunda fase do modernismo
Se em 22 tínhamos um interesse pelos temas nacionais, com aproximação da linguagem popular e valorização da vida cotidiana; na arte engajada de 30 temos uma literatura mais amadurecida, sem a descontração e a irreverência, mas com reflexões sobre a realidade do brasileiro, trazendo à tona o nacional através desta reflexão, com textos de linguagem aproximada do popular.
A literatura da época de 30 dividiu-se em prosa e poesia: a prosa voltava-se para a crítica social, trazendo à tona os retratos de várias regiões do país (regionalismo) como forma de denúncia dos problemas sociais de cada região e com uma reflexão sobre a solução do problema; a poesia voltava-se para o sentimento humano, levantando o questionamento sobre a existência humana e a compreensão do local do mundo e do local que o ser humano tem neste mundo conflituoso.
Principais autores da segunda fase
Os principais nomes da prosa são: Jorge Amado, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Érico Verissimo. Na poesia, temos: Cecília Meireles, Vinicius de Moraes, Jorge de Lima, Murilo Mendes.
Terceira fase do modernismo
Com o fim das Grandes Guerras (Primeira Guerra Mundial e Segunda Guerra Mundial) e início da Guerra Fria e o fim da Era Vargas, que trouxe uma época de democratização política brasileira, o Modernismo brasileiro começou a ganhar novos rumos. Não era mais necessário o empenho social e político, pois em tese não havia mais conflitos aos quais se opor.
A geração de 1945 abandonou vários ideais de 22, criando novas regras que permitiam a liberdade para o artista criar o que quisesse. Eles não estavam mais ligados à obrigação de aproximar-se da realidade brasileira e nem de aproximar-se do povo através de uma linguagem popular e descontraída.
A principal temática da geração de 1945 estava ligada à aproximação do psicológico humano. Para transmitir esta reflexão da psicologia humana, as obras desta geração possuíam um equilíbrio rítmico e linguagem lírica que rendia-se à antiga forma decassíliaba e rigorosa, deixando de lado o verso livre instaurado em 1922.
Principais autores da geração de 45
São nomes famosos desta época: Clarice Lispector, Guimarães Rosa e João Cabral de Melo Neto.
BIBLIOGRAFIA
·         CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Literatura – história & texto – vol 3. 8.ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
·         CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Literatura Brasileira: ensino médio. 2.ed reform. São Paulo: Atual, 2000.