quarta-feira, 7 de abril de 2010

Figuras de Linguagem (resumido para o Curso Normal)

A linguagem científica prima pela exatidão, pela precisão, pela correção, pela objetividade. O texto literário, no entanto, se marca por desvios em relação ao significado das palavras ou às próprias construções.


Por apresentar desvios, que também são conhecidos como figuras, diz-se que a linguagem usada pela literatura é figurada. É isso que vamos estudar nessa parte do livro. Para tal, dividimos essas figuras em grupos.



 Metáfora (e suas variações)

Um homem, ao dirigir-se a uma mulher, diz: “Você é o sol da minha vida.”

Considerando que mulher não é sol, percebe-se que esta palavra (sol) está em sentido conotativo, ou seja, figurado. O que ele quer dizer pé que ela “o ilumina”, “o orienta”, “o aquece”, “é o centro de seus interesses”, “o mantém em órbita”...

Enfim, ele se coloca como um planeta, para o qual o sol é o próprio sentido e motivo da existência.

A esse processo de criação lingüística, que envolve uma comparação implícita, dá-se o nome geral de metáfora.

Vamos, agora, ver as figuras de linguagens mais comuns.


Metáfora

Troca ou relacionamento de palavras em que há uma construção figurada baseada na semelhança, isto é, um critério subjetivo e de contexto intelectual (não aparece o termo comparativo)

“Qualquer ruído, dizia, era faca em seus ouvidos” (Marina Colassanti)


Símile ou Comparação

É parecida com a metáfora, porém apresenta o termo comparativo presente.

“Partiu-se meu rosto em chispas / como as estrelas num poço”.(Cecília Meireles)


Personificação ou prosopopéia

É um tipo de metáfora em que se atribui qualidade, ação ou condição humana a coisas ou seres não humanos.

“As grandes árvores nem se mexem, pois não dão confiança a essa brisa, mas as plantinhas miúdas ficam felizes”.(Aníbal Machado)


Hipérbole

É também uma variação da metáfora, mas seu nome indica que se baseia num exagero.

“Até nosso céu eles espanaram” .(João Cabral de Melo Neto)

“Não o vejo há milhões de anos.”


Eufemismo


Também é da família da metáfora, mas tem o objetivo de suavizar uma idéia desagradável ou grosseira.

“O meu último sono, eu quero assim dormi-lo:

- Num largo descampado...” (Vicente de carvalho)

Às vezes, o Eufemismo ganha um tom humorístico. A mesma idéia de morte é percebida em:

“Ele vestiu um paletó de madeira”.
 
 
Metonímia


É o segundo grande eixo das figuras semânticas. Diferentemente da metáfora, que se baseia num eixo de concentração, a metonímia se caracteriza por uma relação ou troca de palavras em que ocorra uma contigüidade, isto é, uma aproximação objetiva, devido à ocupação de espaços próximos no universo.


“Os olhos claros da mulher pediram-lhe com doçura...” (Carlos Drummond de Andrade)

“olhos” substituem “mulher”


Observe que se trocam (ou se relacionam) as palavras baseando-se na aproximação dentro do universo ou do contexto.

“Abriu uma torneira do banheiro para lavar o sono do rosto”.(Luís Fernando Veríssimo)

Há um tipo especial de metonímia que, na verdade, troca o “todo” por uma “parte”, que tem o nome de Sinédoque.

“O Ford quase o derrubou e ele não viu o Ford”.(Alcântara Machado)

 
Antítese


O que aproxima as palavras trocadas ou relacionadas é a oposição.

“Abaixo – via a terra – abismo de treva!

Acima – o firmamento – abismo de luz!” (Castro Alves)


Paradoxo

É a oposição de raciocínios, já que há ilogicidade na idéia.

“Estranha paixão: quanto mais ódio, mais amor.” (Fagundes Varela)


Ironia

É, com clara intenção, comunicar exatamente o contrário do que se diz.

“... o velho começou a ficar com aquela bonita expressão cadavérica.” (Stanislau Ponte Preta)


Atividades:

1. Classifique as figuras de linguagem presentes nos fragmentos abaixo:



a) Você é o sol da minha vida.



b) Seus olhos brilham como estrelas.



c) Esse homem é uma fera!



d) Meu coração é um almirante louco.



e) Já lhe disse isso um milhão de vezes.



f) A mocidade é um noivado.



g) Bebeu dois copos cheios.



h) Ele entregou a alma a Deus.


Texto 1: Receita de acordar palavras

Palavras são como as estrelas

facas ou flores

elas têm raízes pétalas espinhos

são lisas ásperas leves ou densas

para acordá-las basta um sopro

em sua alma

e como pássaros

vão encontrar seu caminho.

(Roseana Murray, em “Receitas de Olhar”)



2. Os dois primeiros versos se constroem por meio de um(a):

a) exagero

b) mentira

c) erro

d) gradação

e) comparação



3. Versos livres são os que não tem métrica, e brancos, os que não têm rimas. Analisando-se o poema, percebe-se que seus versos são:

a) livres e rimados

b) metrificados e brancos

c) livres e brancos

d) metrificados e rimados

e)impossíveis de confirmar



4. O tema do texto, é na verdade:

a) a própria poesia

b) a palavra

c) a alma das palavras

d) o caminho da vida

e) a vida em si



5. No título, há uma clara prova de que a linguagem do poema é literária. Assinale-a.

a) o uso denotativo do verbo acordar

b) a referência à palavra “palavras”

c) a presença da preposição “de”

d) o emprego conotativo da palavra receita

e) o não aparecimento do tema real do texto



6. “O sopro na alma das palavras” significaria, segundo o texto;

a) a forma poética

b) uso de metrificação adequada

c) a procura das melhores rimas

d) a mensagem que exprima o conteúdo

e) a intenção de sugestionar o ouvinte