domingo, 1 de dezembro de 2013

Atividades de Ambiguidade

1. Explique a ambiguidade das frases abaixo:

a)A empregada lavou as roupas que encontrou no tanque.

b) Comi um churrasco num restaurante que era gostoso.

c) Estivemos na escola da cidade que foi destruída pelo incêndio.

d) João e Maria vão casar-se.

e) O juiz declarou ter julgado o réu errado.

f) O policial prendeu o ladrão em sua casa

g) Se você tivesse ido à festa com José, encontraria sua namorada

h) Vi o acidente do barco.

i) Você deve esperar seu irmão e levá-lo em seu carro até o hospital


2. Explique cada um dos sentidos dos textos abaixo:

Texto 1   
Um garoto pergunta para o outro:
- Você nasceu em Pelotas?
- Não, nasci inteiro.

Texto 2   
- Doutor, já quebrei o braço em vários lugares.
- Se eu fosse o senhor, não voltava mais para esses lugares.

Texto 3
O bêbado está no consultório e o médico diz:
- Eu não atendo bêbado.
- Então quando o senhor estiver bom eu volto - disse o bêbado.


3. (Unicamp 2010). Na propaganda do dicionário Aurélio, a expressão “bom pra burro” é polissêmica, e remete a uma representação do dicionário. Explique como o uso da expressão “bom pra burro” produz humor nessa propaganda.


quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Revisão para o Curso Normal - 18/09/13

Para a minha prova, vocês devem estudar no livro de vocês:
- Capítulo 1, Arcadismo, página 264. 
Quem quiser garantir uma boa nota no Saerjinho, também pode estudar os outros capítulos do livro que falam sobre o Arcadismo.
- Capítulo 3, Estrutura de palavras, página 276.
Para o Saerjinho, vocês também podem ler o Capítulo 6, sobre Formação de Palavras, página 293, mas lembrem-se: observando o Saerj do ano anterior, vocês perceberam como as questões traziam interpretação de texto sobre poemas do Arcadismo. Já sabem o que poderão focar novamente, né?!
Até semana que vem!



Arcadismo 


Quem tiver interesse em reforçar o conhecimento adquirido nas aulas, há uma série de exercícios sobre o Arcadismo em uma postagem antiga do blog. Vocês poderão acessar clicando neste link aqui: http://anagabrielavieira.blogspot.com.br/2009/09/convite-marilia-bocage-arcadismo.html

OBS.: Na postagem não há gabarito!



Estrutura de Palavras

As palavras são constituídas de morfemas.
São eles:

RadicalÉ o elemento comum de palavras cognatas, também chamadas de palavras da mesma família. É responsável pelo significado básico da palavra.
Ex.: terra, terreno, terreiro, terrinha, enterrar, terrestre...
Atenção:
Às vezes, ele sofre pequenas alterações. Ex.: dormir- durmo; querer- quis 
Afixos 
São partículas que se anexam ao radical para formar outras palavras. Existem dois tipos de afixos:
Prefixos: colocados antes do radical. 
Ex.: desleal, ilegal
Sufixos: colocados depois do radical.
Ex.: folhagem, legalmente 


Vogais ou consoantes de ligação
Entram na formação das palavras para facilitar a pronúncia. Existem em algumas palavras por necessidade fonética. 
OBS:Não são significativos, portanto, não sendo considerados morfemas.
Ex.: café-cafeteira, capim-capinzal, gás-gasômetro

Vogal Temática
Vogal Temática (VT) se junta ao radical para receber outros elementos. Fica entre dois morfemas. Existe vogal temática em verbos e nomes. 
Ex.: beber, rosa, sala.
Nos verbos, a VT indica a conjugação a que pertencem (1ª, 2ª ou 3ª). 
Ex.: partir- verbo de 3ª conjugação
Há formas verbais e nomes sem VT. Ex.: rapaz, mato (verbo) 
Dicas:
A VT não marca nenhuma flexão, portanto é diferente de desinência.

TemaTema = radical + vogal temática
Ex.: cantar = cant + a, mala = mal + a, rosa = ros + a 

Desinências
São morfemas colocados no final das palavras para indicar flexões verbais ou nominais.
Podem ser: 
Nominais: indicam gênero e número de nomes (substantivos, adjetivos, pronomes, numerais).
Ex.: casa – casas; gato - gata 
Verbais: indicam número, pessoa, tempo e modo dos verbos. Existem dois tipos de desinências verbais: desinências modo-temporal (DMT) e desinências número-pessoal (DNP). 
Ex.: Nós corremos, se eles corressem (DNP); se nós corrêssemos, tu correras (DMT) 
Verbo-nominais: indicam as formas nominais dos verbos (infinitivo, gerúndio e particípio). Ex. beber, correndo, partido 
OBS: A divisão verbal em morfemas será melhor explicada em: classes de palavras/ verbos.
Algumas formas verbais não têm desinências como: trouxe, bebe...


Quem quiser estudar um pouco mais, há alguns exercícios com gabarito neste link aqui: http://gramaticaelinguagem.blogspot.com.br/2010/11/40-exercicios-sobre-formacao-de.html




domingo, 4 de agosto de 2013

Graus do Substantivo - 601


.
É a classe gramatical de palavras variáveis, as quais denominam os seres. Exemplos; mesa, Roberto, menino, quadro.

Classificação dos Substantivos:
- Comuns: Aplica-se a todos os seres de uma espécie. Exemplos: mesa, árvore, livro.
- Próprios: Aplica-se a um único ser de toda uma espécie. Exemplos: Brasil, Maria, Marcos.
- Concretos: Nomeiam seres de existência real ou que a imaginação dá como tal. Exemplos: caneta, fada, porta.
- Abstratos: Nomeiam estados, qualidades, ações, sentimentos. Exemplos: viagem, visita, ódio, gratidão, amor.
- Primitivos: Não tem origem em outra palavra portuguesa: Exemplos: mar, cinza, terra.
- Derivados: Possuí origem em outra palavra portuguesa. Exemplos: marujo, cinzeiro, terreno.
- Simples: São formados de um só radical. Exemplos: tempo, sol, terreiro.
- Compostos: São formados de mais de um radical. Exemplos: girassol, fidalgo.
- Coletivos: Nomeiam agrupamentos de seres da mesma espécie. Exemplos: álbum  (conjunto de fotografia, selos), flora ( conjunto de plantas de uma região), cáfila (conjunto de camelos).


Flexões do Substantivo:
Gênero
masculino
feminino
Número
singular
plural
Grau
aumentativo
diminutivo

Substantivo - Grau (aumentativo e diminutivo)

Grau: aumentativo e diminutivo  

Grau
Formação
Exemplos
Aumentativo sintéticoacrescentam-se os sufixos: -aço, -aça, -ão, -ona, -alhão, -arrão, -alha,  -eiro, -eira, -orra, -arra, -aréu, -eirão, -ázio, -azricaço, bigodaça, casarão, mulherona, dramalhão, montanha, muralha, maluqueira, mexeriqueiro
Aumentativo analítico
associa-se um adjetivo
casa enorme
estátua grande
Diminutivo sintético
Acrescentam-se os sufixos: -inho, -zinho, -ito, -zito, -acho, -culo, -ejo, -elho, -ela, -ete, -eto, -icho, -ico, -ilho, -im, -ola, -ota, -ote, -ucho, -únculo, -ulo
sapatinho, aldeola, bandeirola
cãozito, viela, corpete, namorico
papelucho
Diminutivo analítico
associa-se um adjetivo
casa minúscula
pequeno jardim

EXERCÍCIOS:


1. Observe os exemplos e continue o exercício:            
caderno           caderninho
           
 anel                 anelzinho
           

 a)  colcha   
 b)  pacote  
 c)   faca         
 d)  pescoço         
 e)   régua       
  f)   lago           
  g)  lâmpada       
  h)            
  i)  irmão       
  j)  avô         
  k) espiral          
  l) álbum


2. Leia as frases. Sublinhe os substantivos e, depois, separe-os de acordo com o grau:



a)    O jardim daquele casarão é bonito.
b)   Aquele homenzarrão é valente.
c)    O menininho viajou naquela barcaça.
d)   Naquela praça há uma estatueta.





NORMAL                      DIMINUTIVO                    AUMENTATIVO



3. Dê o aumentativo e o diminutivo de:


a)    rapaz
b)   bêbado
c)    casa
d)   ladrão
e)   mão
f)     fogo

Romance e suas características (902 - Condessa)

Responda rápido: o que é um romance??? Se você disse que é uma história romântica  onde existe um casal apaixonado que fica junto e feliz no final, errou! Esse erro é muito comum quando se trata desse tipo de Literatura. Descubra porque romance não é o que foi dito acima.
Romance é um tipo de história longa e complexa, com várias personagens. Caracterizado por livros, eles permitem que o leitor se aprofunde na trama e conheça bem cada um dos protagonistas dela. Dentro de um romance podem existir histórias secundárias que ajudam a compor o caráter e a personalidade das personagens ou ajudam no entendimento do que se passa na história.
Os personagens do romance são fictícios, vivendo acontecimentos imaginários. Os personagens centrais (heróis) passam a ser homens comuns vivendo dramas corriqueiros como complicações sentimentais, sociais ou financeiras. Eles são abordados por inteiro, ficando a alma fraturada entre os desejos íntimos e a realidade quase sempre hostil, apresentando uma complexidade maior.
Com o romance nasce a análise psicológica e o conflito interior dos personagens são temas recorrentes, além dos conflitos dos indivíduos com o mundo, sobretudo na luta contra as normas sociais e os preconceitos.
Por possuir uma trama assim tão bem elaborada é praticamente indispensável o grande número de personagens. Geralmente os protagonistas são descritos de forma tão minuciosa que no fim do romance nos sentimos íntimos deles. A história dessas personagens principais é recheada com outras histórias que dão conteúdo a obra. É como uma novela da tv!
 O cenário é variado e pode haver mais de um local onde se desenrola a trama. Isso dá mobilidade e torna a história mais interessante. Mas e você, já leu algum romance???
Vejamos alguns tipos de Romances mais conhecidos na Literatura Brasileira:

Quanto ao tipo de abordagem:

Romance urbano: nele a vida social das grandes cidades era retratada, e o motivo das tramas eram, principalmente, as comuns intrigas amorosas, as traições, os ambientes urbanos e outras situações comuns da vida das pessoas que vivem neles.

Romance Regionalista: Aborda questões sociais a respeito de determinadas regiões do Brasil, destacando características de cada região, linguajar típico da região muitas vezes é utilizado no Romance e as personagens são pessoas que vivem longe das cidades.

Romance Indianista: Ocorrido principalmente no Romantismo, traz à tona a vida e os costumes indígenas. Algumas vezes, no Romantismo, trazem uma idealização do índio que vira um herói convivendo com o homem branco.

Romance Histórico: como o próprio o nome diz, é um Romance que destaca vida e costumes de certa época e lugar da história. Faz uma mesclagem entre fatos realmente ocorridos e fatos fictícios.


Quanto à época ou escola literária:

Romance Romântico: Nesse tipo de Romance se destacavam os ideais cavalheirescos, a idealização da mulher e o heroísmo, dignidade e amor à pátria nas personagens masculinas. As narrativas traziam uma constante luta entre o bem e o mal, sempre com a vitória do bem. Narravam sempre histórias de amor, onde era certo o conhecido Final Feliz.

Romance Realista: Tem características temáticas influenciadas pelo cientificismo da época. É carregado de críticas sociais e traz à tona defeitos dos homens que até então não eram revelados, como o materialismo, a traição, além de defeitos de caráter e personalidade explicados pelo determinismo. Personagens tipo são muito cultivadas nessas obras, ainda com o objetivo de criticar a sociedade. A linguagem é correta e a narrativa é lenta, com pausas para minuciosas descrições.

Romance Naturalista: em muitos casos não se separa das narrativas realistas. Tem basicamente as mesmas características e foram produzidos no mesmo período. A diferença básica entre as duas tendências é que enquanto os Romances Realistas trazem personagens com características comuns à natureza humana, o Romance Naturalista tende aos aspectos patológicos, dando margem a características animalescas. A análise social é feita a partir de personagens marginalizadas.

Romance Modernista: Caracteriza-se pelo seu caráter revolucionário e pelo protesto a qualquer tipo de convenção social. Como o movimento modernista teve várias tendências, às vezes até individuais, não podemos destacar muitas características em comum entre as obras. Traziam consigo forte crítica social e novas abordagens e visões do mundo.

Todas as obras narrativas possuem elementos estruturais e estilísticos em comum e devem responder a questionamentos, como: quem?, que? quando? onde? por quê? Vejamos a seguir:

Narrador: é o que narra a história, pode ser onisciente (terceira pessoa, observador, tem conhecimento da história e das personagens, observa e conta o que está acontecendo ou aconteceu) ou personagem (em primeira pessoa; narra e participa da história e, contudo, narra os fatos à medida em que acontecem, não pode prever o que acontecerá com as demais personagens).
Tempo: é um determinado momento em que as personagens vivenciam as suas experiências e ações. Pode ser cronológico (um dia, um mês, dois anos) ou psicológico (memória de quem narra, flash-back feito pelo narrador).
Espaço: lugar onde as ações acontecem e se desenvolvem.
Enredo: é a trama, o que está envolvido na trama que precisa ser resolvido, e a sua resolução, ou seja, todo enredo tem início, desenvolvimento, clímax e desfecho.
Personagens: através das personagens, seres fictícios da trama, encadeiam-se os fatos que geram os conflitos e ações. À personagem principal dá-se o nome de protagonista e pode ser uma pessoa, animal ou objeto inanimado, como nas fábulas.


O que vimos foram os recursos que os estilos narrativos têm em comum, agora vejamos cada um deles e suas características separadamente:

• Romance: é uma narrativa longa, geralmente dividida em capítulos, possui personagens variadas em torno das quais acontece a história principal e também histórias paralelas a essa, pode apresentar espaço e tempo variados.


• Novela: é um módulo mais compilado do romance e também mais dinâmico, é dividida em episódios, são contínuos e não têm interrupções.

• Conto: é uma narrativa curta que gira em torno de um só conflito, com poucos personagens.

• Crônica: é uma narrativa breve que tem por objetivo comentar algo do cotidiano; é um relato pessoal do autor sobre determinado fato do dia a dia.

[OBS: Texto construído através da leitura de diversos livros e sites]


quinta-feira, 13 de junho de 2013

Interpretação de texto - Crônica

O Homem Nu
Fernando Sabino

     

   Ao acordar, disse para a mulher:
        — Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa.  Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum.
        — Explique isso ao homem — ponderou a mulher.
        — Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém.   Deixa ele bater até cansar — amanhã eu pago.
        Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão.  Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.
 Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos:
        — Maria! Abre aí, Maria. Sou eu — chamou, em voz baixa.
        Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.
        Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares...  Desta vez, era o homem da televisão!
        Não era. Refugiado no lanço da escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão:
        — Maria, por favor! Sou eu!
        Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá de baixo... Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaiado. Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do pão.
        Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer.
        — Ah, isso é que não!  — fez o homem nu, sobressaltado.
        E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pelo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido... Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime do Terror!
        — Isso é que não — repetiu, furioso.
        Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares, obrigando-o a parar.  Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu andar. Lá embaixo continuavam a chamar o elevador.  Antes de mais nada: "Emergência: parar". Muito bem. E agora? Iria subir ou descer?  Com cautela desligou a parada de emergência, largou a porta, enquanto insistia em fazer o elevador subir. O elevador subiu.
        — Maria! Abre esta porta! — gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria atrás de si.
         Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho:
        — Bom dia, minha senhora — disse ele, confuso.  — Imagine que eu...
        A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito:
        — Valha-me Deus! O padeiro está nu!
        E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha:
        — Tem um homem pelado aqui na porta!
        Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava:
        — É um tarado!
        — Olha, que horror!
        — Não olha não! Já pra dentro, minha filha!
        Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou como um foguete e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois, restabelecida a calma lá fora, bateram na porta.
        — Deve ser a polícia — disse ele, ainda ofegante, indo abrir.
        Não era: era o cobrador da televisão.

Esta é uma das crônicas mais famosas do grande escritor mineiro Fernando Sabino. Extraída do livro de mesmo nome, Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 65
Glossário
Vigarice: Ato de trapaça; fraude.
Lanço: Parte de uma escada entre dois patamares sucessivos; o mesmo que lance.
Grotesco: Ridículo, extravagante.
Encetar: Iniciar, começar.
Em pelo: Nu, pelado.
Pesadelo de Kafka: Referência ao escritor checo Franz Kafka, que criou histórias fantásticas com toques de terror e situações incomuns. Muitas vezes, seus personagens se sentiam assustados e em agonia, como se vivessem um pesadelo.
Regime do Terror. Referência ao período da Revolução Francesa compreendido entre 31 de maio de 1793 e 27 de julho de 1794, em que milhares de pessoas foram executadas na guilhotina por se oporem ao governo e às ideias de Maximilien de Robespierre.
Estarrecida. Espantada, horrorizada, perplexa.
Radiopatrulha. Veículo da polícia, equipado com rádio.

Compreensão do texto e análise da organização do enredo

1.     O título da crônica é O homem nu. Que outro título você poderia atribuir ao assunto do texto?

2.    O texto foi escrito no início da década de 1960. Que fatos ou situações nos permitem concluir que a história não se passa nos dias de hoje?

3.     Por que o homem ficou nu?

4.    Por que a mulher não abriu a porta do apartamento quando a campainha tocou?
       
5.    No quarto parágrafo do texto, o homem afirma:
             — Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas          obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que       não tem ninguém. Deixa ele bater até cansar — amanhã eu pago.
      A atitude dele está de acordo com sua afirmação? Por quê?

6.     Por que a vizinha gritou que o padeiro estava nu?

7.    No final da história, o homem teve de encarar o cobrador da televisão. Escreva uma possível desculpa que ele poderia dar para não pagar a prestação.

8.     Responda a estas perguntas sobre o texto O homem nu.
       a) Qual era o desejo do homem nu ao se ver trancado fora de casa?
 
       b) O que o impedia de realizar esse desejo?

9.    Assinale a alternativa que expressa o principal conflito do protagonista, isto é, do personagem mais importante de O homem nu.

            A oposição entre o desejo e o que impede sua realização chama-se conflito. Pode ser um choque             de interesses, de opiniões, de comportamento entre dois ou mais personagens, ou de um personagem            com a natureza, ou até de um personagem consigo mesmo. É por meio do conflito que se estrutura o       enredo de uma narrativa.

a.(   )O marido quer tomar banho, mas a mulher já se trancou no banheiro.
b(    )O cobrador virá receber a prestação, mas o devedor está sem dinheiro.
c(     )O homem nu está do lado de fora do apartamento e não consegue entrar em casa.
d(    )O elevador começa a subir e o homem nu pensa que é o cobrador.

O momento da narrativa em que a sequência de acontecimentos atinge o  mais alto grau de tensão chama-se clímax.
10.       Qual é o momento de mais tensão, de mais nervosismo no texto?
                       

11.  Numere as ações, mostrando a sequência dos acontecimentos.
a.     A porta do apartamento se fecha, deixando o homem para fora.  (        )
b.     O marido pega o embrulho do pão.     (        )
c.     O marido põe a água para esquentar. (        )
d.     O marido entra no elevador e aperta o botão de emergência.       (        )
e.     A mulher vai para o banho.  (        )
f.     A mulher abre a porta.  (        )
g.     O homem e a mulher decidem fingir que não estão em casa.   (        )
h.     A mulher desliga o chuveiro.    (        )
i.      O elevador começa a subir.     (        )
j.      O marido tira a roupa para tomar banho. (        )
k.     O marido toca a campainha do apartamento.    (        )
l.      O cobrador da televisão bate à porta.    (        )
m.    O marido grita e esmurra a porta, alertando os vizinhos.    (        )

12.  Em vários momentos, o autor criou suspense no texto. Localize dois trechos em que isso ocorre e cite os números dos parágrafos correspondentes.

13.  Retire do texto O homem nu três palavras ou expressões que marcam o tempo na narrativa..

14. Releia esta frase do texto e faça o que se pede.
            Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro (...)
  a) Assinale a alternativa que explica o sentido do trecho sublinhado.
(     ) Expressa uma consequência.
(      ) Indica uma causa.
(     ) Estabelece uma comparação.
    
b) Reescreva essa mesma frase, substituindo a palavra como por outra palavra ou expressão de sentido equivalente. Faça as alterações necessárias.