quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Realismo/Naturalismo/Parnasianismo

“O Realismo é uma reação contra o Romantismo: o Romantismo era a apoteose do sentimento; - o Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para condenar o que houve de mau na nossa sociedade.”
[Eça de Queirós]



A poesia do final da década de 1860 já anunciava o fim do Romantismo; escritores como Castro Alves, Sousândrade e Tobias Barreto faziam uma poesia romântica na forma e na expressão, mas os temas estavam voltados para uma realidade político-social. O mesmo se pode afirmar de algumas produções do romance romântico, notadamente a de Manuel Antônio de Almeida, Franklin Távora e Visconde de Taunay. Era o pré-realismo que se manifestava.
Na década de 70 surge a chamada Escola de Recife, com Tobias Barreto, Sílvio Romero e outros, aproximando-se das idéias européias ligadas ao Positivismo, ao Evolucionismo e, principalmente, à filosofia alemã. São os ideais do Realismo que encontravam ressonância no conturbado momento histórico pelo Brasil, sob o signo do abolicionismo, do ideal republicano e da crise da Monarquia.
Em 1857, o mesmo ano em que no Brasil era publicado O guarani, de José de Alencar, na França é publicado Madame Bovary, de Gustave Flaubert, considerado o primeiro romance realista da literatura universal. Em 1865, Claude Bernard publica Introdução à medicina experimental, com uma tese sobre a hereditariedade. Em 1867 Émile Zola publica Thérèse Raquin, inaugurando o romance naturalista.
No Brasil considera-se 1881 como o ano inaugural do Realismo. De fato, esse foi um ano fértil para a literatura brasileira, com a publicação de dois romances fundamentais, que modificaram o curso de nossas letras: Aluísio Azevedo publica O mulato, o primeiro romance naturalista do Brasil; Machado de Assis publica Memórias póstumas de Brás Cubas, o primeiro romance realista de nossa literatura.
Na divisão tradicional da história da literatura brasileira, o ano considerado data final do Realismo é 1893, com a publicação de Missal e Broquéis, ambos de Cruz e Souza, obras inaugurais do Simbolismo.  No entanto, é importante salientar que 1893 registra o início do Simbolismo, mas não o término do Realismo e suas manifestações na prosa, com os romances realistas e naturalistas, e na poesia, com o Parnasianismo.  Basta lembrar que Dom Casmurro, de Machado de Assis, é de 1900; Esaú e Jacó, do mesmo autor, é de 1904. Olavo Bilac foi eleito “príncipe dos poetas” em 1907.  A Academia Brasileira de Letras, templo do Realismo, é de 1897.  O movimento se estende até o início do século XX, quando Graça Aranha publica Canaã, fazendo surgir uma nova estética: o Pré-Modernismo. Na realidade, nos últimos vinte anos do século XIX e nos primeiros vinte anos do século XX, temos três estéticas que se desenvolvem paralelas: o Realismo e suas manifestações, o Simbolismo e o Pré-Modernismo, que só conhecem o golpe fatal em 1922, com a Semana de Arte Moderna.
O Realismo reflete as profundas transformações econômicas, políticas, sociais e culturais da Segunda metade do século XIX.  A Revolução Industrial, iniciada no século XVIII, entra numa nova fase, caracterizada pela utilização do aço, do petróleo e da eletricidade; ao mesmo tempo o avanço científico leva a novas descobertas nos campos da Física e da Química. O capitalismo se estrutura em moldes modernos, com o surgimento de grandes complexos industriais; por outro lado, a massa operária urbana avoluma-se, formando uma população marginalizada que não partilha dos benefícios gerados pelo progresso industrial mas, pelo contrário, é explorada e sujeita a condições subumanas de trabalho.
Esta nova sociedade serve de pano de fundo para uma nova interpretação da realidade, gerando teorias de variadas posturas ideológicas. Numa sequência cronológica temos o Positivismo de Auguste Comte, preocupado com o real-sensível, o fato, defendendo o cientificismo no pensamento filosófico e a conciliação da “ordem e progresso” (a expressão, utilizada na bandeira republicana do Brasil, é de inspiração comtiana); o Socialismo Científico de Karl Marx e Friedrich Engels, a partir da publicação do Manifesto Comunista, em 1848, definindo o materialismo histórico (“o modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social, político e intelectual em geral” – K. Marx) e a luta de classes; o Evolucionismo de Charles Darwin, a partir da publicação, em 1859, de A origem das espécies, livro em que ele expõe seus estudos sobre a evolução das espécies pelo processo de seleção natural, negando portanto a origem divina defendida pelo Cristianismo.
O Brasil também passa por mudanças radicais tanto no campo econômico como no político-social, no período compreendido entre 1850 e 1900, embora com profundas diferenças materiais, se comparadas às da Europa.  A campanha abolicionista intensifica-se a partir de 1850; a Guerra do Paraguai (1864/70) tem como consequência o pensamento republicano – o Partido Republicano foi fundado no ano em que essa guerra acabou –; a Monarquia vive uma vertiginosa decadência.  A Lei Áurea, de 1888, não resolveu o problema dos negros, mas criou uma nova realidade.  O fim da mão-de-obra escrava e a sua substituição pela mão-de-obra assalariada, então representada pelas levas de imigrantes europeus que vinham trabalhar na lavoura cafeeira, originou uma nova economia voltada para o mercado externo, mas agora sem a estrutura colonialista.
É nesse contexto sócio-político-científico que surgem o Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo. Os temas, opostos àqueles do Romantismo, não mais engrandecem os valores sociais, mas os combatem ferozmente. A ambientação dos romances se dá, preferencialmente, em locais miseráveis, localizados com precisão; os casamentos felizes são substituídos pelo adultério; os costumes são descritos minuciosamente com reprodução da linguagem coloquial e regional. A alteração do quadro social e cultural exigia dos escritores outra forma de abordar a realidade: menos idealizada do que a romântica e mais objetiva, crítica e participante.  Contudo há semelhanças e diferenças entre essas correntes.  As semelhanças residem na objetividade, na luta contra o Romantismo e no gosto por descrições minuciosas.

Características
As características do Realismo estão intimamente ligadas ao momento histórico, refletindo, dessa forma, a postura do Positivismo, do Socialismo e do Evolucionismo, com todas as suas variantes. Assim é que o objetivismo aparece como negação do subjetivismo romântico e nos mostra o homem voltado para aquilo que está diante e fora dele, o não-eu; o personalismo cede terreno para o universalismo. O materialismo leva à negação do sentimentalismo e da metafísica.
O nacionalismo e a volta ao passado histórico são deixados de lado; o Realismo só se preocupa com o presente, o contemporâneo.
Influenciados por Hypolite Taine e sua Filosofia da arte, os autores realistas são adeptos do determinismo, segundo o qual a obra de arte seria determinada por três fatores: o meio, o momento e a raça – esta, no que se refere à hereditariedade. O avanço das ciências, no século XIX, influencia sobremaneira os autores da nova estética, principalmente os naturalistas, donde se falar em cientificismo nas obras desse período.
Ideologicamente os autores desse período são antimonárquicos, assumindo uma defesa clara do ideal republicano, como se observa na leitura de romances como O mulato, O cortiço e O Ateneu, por exemplo.  Negam a burguesia a partir da célula-mãe da sociedade: a família; eis por que os sempre presentes triângulos amorosos, formados pelo pai traído, a mãe adúltera e o amante, que é sempre um “amigo da casa”; para citarmos apenas exemplos famosos de Machado de Assis, eis alguns triângulos:  Bentinho/Capitu/Escobar; Lobo Neves/Virgília/Brás Cubas; Cristiano Palha/Sofia Palha/Rubião. São anticlericais, destacando-se em suas obras os padres corruptos e a hipocrisia de velhas beatas.
Finalmente é importante salientar que Realismo é denominação genérica da escola literária, sendo que nela se podem perceber três tendências distintas, expostas a seguir.

Romance Realista 
Cultivado no Brasil por Machado de Assis, é uma narrativa mais preocupada com a análise psicológica, fazendo a crítica à sociedade a partir do comportamento de determinados personagens.  É interessante constatar que os cinco romances da fase realista de Machado apresentam nomes próprios em seus títulos – Brás Cubas; Quincas Borba; D. Casmurro; Esaú e Jacó; Aires –, revelando clara preocupação com o indivíduo.
O romance realista analisa a sociedade “por cima”, ou seja, seus personagens são capitalistas, pertencem à classe dominante; mais uma vez nos voltamos para a obra de Machado e percebemos que Brás Cubas não produz, vive do capital, o mesmo acontecendo com Bentinho; já Quincas Borba era louco e mendigo até receber uma herança; o único dos personagens centrais de Machado que trabalhava era Rubião (professor em Minas), mas recebe a herança de Quincas Borba, muda-se para o Rio e não trabalha mais, vivendo do capital. O romance realista é documental, retrato de uma época.
Outro tratamento típico é a caracterização psicológica das personagens que têm seus retratos compostos através da exposição de seus pensamentos, hábitos e contradições, revelando a imprevisibilidade das ações e construção das personagens, retratadas no romance psicológico dos escritores Raul Pompéia e Machado de Assis.

Observe o trecho abaixo:

Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa.  Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não.  Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.  Era isto Virgília, e era clara, muito clara, faceira, ignorante, pueril, cheia de uns ímpetos misteriosos; muita preguiça e alguma devoção, - devoção, ou talvez medo; creio que medo.  (ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo, Scipione, 1994. p. 45)

Podemos notar todo o estilo irônico do autor, aqui com suas baterias voltadas contra as idealizações românticas que haviam moldado o gosto do público leitor. Repare que Machado parte de uma adjetivação que nos leva a montar um perfil da heroína romântica (a mais atrevida, a mais voluntariosa, bonita, fresca, carregada de feitiço, faceira) para só num segundo momento provocar a ruptura: ignorante, pueril, preguiçosa.


Romance Naturalista
Cultivado no Brasil por Aluísio Azevedo, Júlio Ribeiro, Adolfo Caminha, Domingos Olímpio, Inglês de Souza e Manuel de Oliveira Paiva; o caso de Raul Pompéia é muito particular, pois seu romance O Ateneu ora apresenta características naturalistas, ora realistas, ora impressionistas.                
A narrativa naturalista é marcada pela forte análise social a partir de grupos humanos marginalizados, valorizando o coletivo; interessa também notar que os títulos dos romances naturalistas apresentam a mesma preocupação: O mulato, O cortiço, Casa de pensão, O Ateneu.  Há inclusive, sobre o romance O cortiço, a tese de que o principal personagem não é João Romão, nem Bertoleza, nem Rita Baiana, nem Pombinha, mas sim o próprio cortiço ou, como afirma Antônio  Candido, “o romance é o nascimento, vida, paixão e morte de um cortiço”.  Sob um certo ponto de vista, o mesmo poderia ser dito sobre o colégio Ateneu (os dois romances se encerram com a destruição dos prédios, abrigos coletivos).
Assim, o romance sob a tendência naturalista manifesta preocupação social e focaliza personagens vivendo em extrema pobreza, exibindo cenas chocantes. Sua função é de crítica social, denúncia da exploração do homem pelo homem e sua brutalização.
A hereditariedade é vista como rigoroso determinismo a que se submetem as personagens, subordinadas, também, ao meio que lhes molda a ação, ficando entregues à sensualidade, à sucessão dos fatos e às circunstâncias ambientais. Além de deter toda sua ação sob o senso do real, o escritor deve ser capaz de expressar tudo com clareza, demonstrando cientificamente como reagem os homens, quando vivem em sociedade.
Por outro lado, o naturalismo apresenta romances experimentais; a influência de Darwin se faz sentir na máxima naturalista segundo a qual o homem é um animal; portanto, antes de usar a razão, deixa-se levar pelos instintos naturais, não podendo ser reprimido em suas manifestações instintivas, como o sexo, pela moral da classe dominante.  A constante repressão leva às taras patológicas, tão ao gosto naturalista; em consequência, esses romances são mais ousados e erroneamente tachados por alguns de pornográficos, apresentando descrições minuciosas de atos sexuais, tocando, inclusive, em temas então proibidos, como o homossexualismo: tanto o masculino, como em O Ateneu, quanto o feminino, em O cortiço.
O principal autor naturalista no Brasil é Aluísio Azevedo. O determinismo social predomina em sua obra, construída através de observação rigorosa do mundo físico e da zoomorfização das personagens.

Observe o texto abaixo:

Ana Rosa, com efeito, de algum tempo a essa  parte, fazia visitas ao quarto de Raimundo, durante a ausência do morador.
Entrava disfarçadamente, fechava as rótulas da janela, e, como sabia que o morador não aparecia àquela hora, começava a bulir nos livros, a remexer nas gavetas abertas, a experimentar as fechaduras, a ler os cartões de visita e todos os pedacinhos de papel escrito, que lhe caíam nas mãos.  Sempre que encontrava um lenço já servido, no chão ou atirado sobre a cômoda, apoderava-se dele e cheirava-o sofregamente, como fazia também com os chapéus de cabeça e com a  travesseirinha da cama.

Estas bisbilhotices deixavam-na caída numa enervação voluptuosa e doentia, que lhe punha no corpo arrepios de febre. 
(AZEVEDO, Aluísio. O mulato.  19. ed. São Paulo, Martins Fontes, 1974. p. 121)

É importante ressaltar que a personagem Ana Rosa, criada segundo alguns “caprichos românticos e fantasias poéticas”, não resiste à força da atração física que Raimundo lhe desperta, chegando a invadir o quarto do rapaz.  O importante é notar como a moça é dominada pelos instintos; como se fosse um animal, “lê” o mundo por meio dos sentidos (ela “conhece” o rapaz pelo cheiro que ele imprimiu nos objetos); a excitação provoca reações físicas (enervação voluptuosa, febre), transformando-se num caso patológico, doentio.

“... E viu a Rita Baiana, que fora trocar o vestido por uma saia, surgir de ombros e braços nus, para dançar. A lua destoldara-se nesse momento, envolvendo-a na sua coma de prata, a cujo refulgir os meneios da mestiça se acentuavam, cheios de uma graça irresistível, simples, primitiva, feita toda de pecado, toda de paraíso, com muito de serpente e muito de mulher. Ela saltou em meio da roda, com os braços na cintura, rebolando as ilhargas e bamboleando a cabeça, ora para a esquerda, ora para a direita, como numa sofreguidão de gozo carnal, num requebrado luxurioso que a punha ofegante; já correndo de barriga empinada; já recuando de braços estendidos, a tremer toda, como se fosse afundando num prazer grosso que nem azeite, em que se não toma pé e nunca se encontra fundo. Depois, como se voltasse à vida, soltava um gemido prolongado, estalando os dedos no ar e vergando as pernas, descendo, subindo, sem nunca parar com os quadris, e em seguida sapateava, miúdo e cerrado, freneticamente, erguendo e abaixando os braços, que dobrava, ora um, ora outro, sobre a nuca, enquanto a carne lhe fervia toda, fibra por fibra, tirilando. (...)
O chorado arrastava-os a todos, despoticamente, desesperando aos que não sabiam dançar. Mas, ninguém como a Rita; só ela, só aquele demônio tinha o mágico segredo daqueles movimentos de cobra amaldiçoada; aqueles requebros que não podiam ser sem o cheiro que a mulata soltava de si e sem aquela voz doce, quebrada, harmoniosa, arrogante, meiga e suplicante."
(Aluísio Azevedo – O cortiço - 1890)


Observação: Observamos que há vários pontos de coincidência entre o romance realista e o naturalista; diríamos até que ambos partem de um mesmo ponto x e ambos chegam a um mesmo ponto y, só que percorrendo caminhos diversos.  Tanto um como outro atacam a monarquia, o clero e a sociedade burguesa.  Inclusive, podemos encontrar, num mesmo autor, determinadas posturas mais realistas convivendo com enfoques mais naturalistas. É o caso de O Ateneu, citado acima. Eça de Queirós, em Portugal, é outro exemplo significativo: alguns críticos o consideram realista, outros classificam-no como naturalista.


Poesia Parnasiana         
Preocupada com a forma e a objetividade; a “arte pela arte”, com seus sonetos alexandrinos perfeitos.  Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto de Oliveira formam a Trindade Parnasiana.
O soneto, a métrica alexandrina (12 sílabas poéticas), a rima rica, rara e perfeita, tudo isso se contrapondo aos versos livres e brancos dos românticos. Em suma, é o endeusamento da Forma.

Profissão de Fé
(fragmento)
Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que êle, em ouro, o alto-relêvo
Faz de uma flor.

Imito-o. E, pois, nem de Carrara
A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O onix prefiro.

Por isso, corre, por servir-me,
Sôbre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.

Corre; desenha, enfeita a imagem,
A idéia veste:
Cinge-lhe ao corpo a ampla ropagem
Azul celeste.

Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.

Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito:

E que o lavor do verso, acaso,
Por tão sutil,
Possa o lavor lembrar de um vaso
De Becerril.

E horas sem conto passo, mudo,
A olhar atento,
A trabalhar, longe de tudo
O pensamento.

Porque o escrever --tanta perícia,
Tanta requer,
Que ofício tal... nem há notícia
De outro qualquer.

Assim procedo. Minha pena
Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena,
Serena Forma!

Deusa! A onda vil, que se avoluma
De um tôrvo mar,
Deixa-a crescer, e o lôdo e a espuma
Deixa-a rolar!

Blasfemo, em grita surda e horrendo
Ímpeto, o bando
Venha dos Bárbaros crescendo,
Vociferando...

Deixa-o: que venha e uivando passe
--Bando feroz!
Não se te mude a côr da face
E o tom da voz!

Olha-os sòmente, armada e pronta,
Radiante e bela:
E, ao braço o escudo, a raiva afronta
Dessa procela!

Êste que à frente vem, e o todo
Possui minaz
De um Vândalo ou de um Visigodo
Cruel e audaz;

Êste, que, de entre os mais, o vulto
Ferrenho alteia,
E, em jacto, expele o amargo insulto
Que te enlameia:

É em vão que as forças cansa, e à luta
Se atira; é em vão
Que brande no mar a maça bruta
À bruta mão

Não morrerás, Deusa sublime!
Do trono egrégio
Assistirás intacta ao crime
Do sacrilégio

E, se morreres porventura,
Possa eu morrer
Contigo, e a mesma noite escura
Nos envolver!
(Rio de Janeiro, julho 1886, Olavo Bilac)

Atividades

01. O realismo foi um movimento de:
a) volta ao passado;
b) exacerbação ultra-romântica;
c) maior preocupação com a objetividade;
d) irracionalismo;
e) moralismo.

02. A respeito de Realismo, pode-se afirmar:
I   – Busca o perene humano no drama da existência .
II  – Defende a documentação de fatos e a impessoalidade do autor perante a obra.
III – Estética literária restritamente brasileira; seu criador é Machado de Assis.

a) São corretas apenas II e III.
b) Apenas III é correta.
c) As três afirmações são corretas.
d) São corretas I e II.
e) As três informações são incorretas.


03. Considerando-se iniciado o movimento realista no Brasil quando:
a) Aluísio de Azevedo publica O Homem.
b) José de Alencar publica Lucíola.
c) Machado de Assis publica Memória Póstumas de Brás Cubas.
d) As alternativas a e c são válidas.
e) As alternativas a e b são válidas.

04. O realismo, como escola literária, é caracterizado:
a) pelo exagero da imaginação;
b) pelo culto da forma;
c) pela preocupação com o fundo;
d) pelo subjetivismo;
e) pelo objetivismo.

05. Podemos verificar que o Realismo revela:
I   – senso do contemporâneo. Encara o presente do mesmo modo que romantismo se volta para o passado ou para o futuro.

II  – o retrato da vida pelo método da documentação, em que a seleção e a síntese operam buscando um sentido para o encadeamento dos fatos.
III – técnica minuciosa, dando a impressão de lentidão, de marcha quieta e gradativa pelos meandros dos conflitos, dos êxitos e dos fracassos.

Assinale:
a) se as afirmativas II e III forem corretas;
b) se as três afirmativas forem corretas;
c) se apenas a afirmativa III for correta;
d) se as afirmativas I e II forem corretas;
e) se as três afirmativas forem incorretas.


06. Das características abaixo, assinale a que não pertence ao Realismo:
a) Preocupação critica.
b) Visão materialista da realidade.
c) Ênfase nos problemas morais e sociais.
d) Valorização da Igreja.
e) Determinismo na atuação das personagens.

 07. Assinale a única alternativa incorreta:
a) O Realismo não tem nenhuma ligação com o Romantismo.
b) A atenção ao detalhe é característica do Realismo.
c) Pode-se dizer que alguns autores românticos já possuem certas características realistas.
d) O cientificismo do século XIX forneceu a base da visão do mundo adotada, de um modo geral, pelo Naturalismo.
e) O Realismo apresenta análise social.

08. No texto a seguir, Machado de Assis faz uma crítica ao Romantismo: Certo não lhe falta imaginação; mas esta tem suas regras, o astro, leis, e se há casos em que eles rompem as leis e as regras é porque as fazem novas, é porque se chama Shakespeare, Dante, Goethe, Camões.

Com base nesse texto, notamos que o autor:
a) Preocupa-se com princípios estéticos e acredita que a criação literária deve decorrer de uma elaborada produção dos autores.
b) Refuga o Romantismo, na medida em que os autores desse período reivindicaram uma estética oposta à clássica.
c) Entende a arte como um conjunto de princípios estéticos consagrados, que não pode ser manipulado por movimentos literários específicos.
d) Defende a idéia de que cada movimento literário deve ter um programa estético rígido e inviolável.
e) Entende que Naturalismo e o Parnasianismo constituem soluções ideal para pôr termo à falta de invenção dos românticos.

09. Examine as frases abaixo
I   – Os representantes do Naturalismo faze aparecer na sua obra dimensões metafísica do homem, passando a encará-lo como um complexo social examinando à luz da psicologia.
II –  No Naturalismo, as tentativas de submeter o Homem a leis determinadas são consequências das ciências, na segunda metade do século XIX.
III – Na seleção de “casos” a serem enfocados, os naturalistas demonstram especial aversão pelo anormal e pelo patológico.

Pode-se dizer corretamente que:
a) só a I está certa;
b) só a II está certa;
c) só a III está certa;
d) existem duas certas;
e) nenhuma está certa.

10. Das citações apresentadas abaixo, qual não apresenta, evidentemente, um enfoque naturalista?
a) Às esquinas, nas quitandas vazias, fermentava um cheiro acre de sabão da terra e aguardente.
b) ... as peixeiras, quase todas negras, muito gordas, o tabuleiro na cabeça, rebolando os grossos quadris trêmulos e as tetas opulentas.
c) Os cães, estendidos pelas calçadas, tinham uivos que pareciam gemidos humanos.
d) ... batiam-lhe com a biqueira do chapéu nos ombros e nas coxas, experimentando-lhes o vigor da musculatura, como se estivesse a comprar cavalos.
e) À porta dos leilões aglomeravam-se os que queriam comprar e os simples curiosos.

11. O mesmo da questão anterior:
a) Viam-se deslizar pela praça os imponentes e monstruosos abdomes dos capitalistas.
b) ... viam-se cabeças  escarlates e descabeladas, gotejando suor por debaixo do chapéu de pêlo.
c) O quitandeiro, assentado sobre o balcão, cochilava a sua preguiça morrinhenta, acariciando o seu imenso e espalmado pé descalço.
d) A Praia Grande, a Rua da Estrela contrastavam todavia com o resto da cidade, porque era aquela hora justamente a de maior movimento comercial.
e) ... uma preta velha, vergada por imenso tabuleiro de madeira, sujo, seboso, chio de sangue e coberto por uma nuvem de moscas...

12. Com relação ao realismo, é válido afirmar que:
a) analisa o ser humano do ponto de vista estritamente psicológico, isolando-o do meio social.
b) valoriza e introduz na literatura elementos tipicamente brasileiros
c) apresenta exagerada preocupação formal, que se revela na busca de palavras ricas em sugestões sensoriais
d) idealiza a personagem feminina, que é apresentada como um ser excepcional de rara beleza
e) procura analisar com objetividade e senso crítico os problemas sociais

13. Quando dizemos: análise da pessoa como ser totalmente produto de momento/raça/meio, sem probabilidade de reação subjetiva; tentativa de consertar uma sociedade tida como degenerada são aspectos de que movimento literário?
a) realismo
b) romantismo
c) modernismo
d) naturalismo
e) pré-modernismo

14. Relacione a segunda coluna de acordo com a primeira:
1) Auguste Comte
2) Charles Darwin
3) Hippolite Taine
4) Karl Marx
 a) autor da teoria do determinismo: o homem é produto do meio (   )
b) representante do socialismo científico (   )
c) em 1859, publica “Origem das espécies” trabalhando o evolucionismo (  )
d) representante do positivismo (   )

15. Sobre o realismo pode-se afirmar, exceto:
a) o realismo predomina sobre o romantismo na 2ª metade do século XIX
b) realismo e modernismo, no fundo, tinham as mesmas reivindicações
c) são causas do realismo o progresso da ciência e o esgotamento do romantismo
d) os escritores realistas pretendiam reformar a vida social através de seus textos
e) para o realismo-naturalismo o comportamento humano é determinado pelo meio

16. Todas as características citadas a seguir referem-se ao realismo, exceto:
a) predomínio da observação atenta da realidade social
b) liberdade aos vôos da imaginação emotiva
c) crítica da sociedade burguesa
d) denúncia de problemas sociais
e) proposta de uma representação mais objetiva e fiel da vida humana

17. No trecho abaixo, o narrador, ao descrever a personagem, critica sutilmente um outro estilo de época: o romantismo.

“Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação”.

ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson,1957.

A frase do texto em que se percebe a crítica do narrador ao romantismo está transcrita na alternativa:

a) ... o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas ...
b) ... era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça ...
c) Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno,...
d) Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos...
e) ... o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.

18. Qual é o romance considerado marco inicial do realismo no Brasil?
a) Dom Casmurro, de Machado de Assis
b) Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis
c) O Cortiço, de Aluísio Azevedo
d) O Ateneu, de Raul Pompéia
e) O Mulato, de Aluísio Azevedo



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